Descoberta nas douradas planícies de Montana por um coletor de pedras de uma empresa associada ao escritório JLF Architects, a construção datada da década de 1880 estava abandonada, como uma verdadeira ruína solitária. "Já no primeiro momento notou-se que ali existia um mundo de possibilidades, e o cliente, completamente encantado pela edificação, que apesar de seu telhado não ter resistido ao tempo possuía ainda sua estrutura e paredes maravilhosamente intactas, abraçou o projeto no exato momento em que o viu", salientam os profissionais.
Assim, em um plano ambicioso, a magistral edificação de alvenaria foi reconstruída à milhas dali. Movendo pedra por pedra, a construção ganhou vida novamente, agora em meio à deslumbrante paisagem de Jackson, Wyoming. Para isso, cada uma das pedras foi rotulada, numerada, fotografa e anotada em um desenho, e a nova construção passou a ser denominada de The Creamery.
As pedras, grandes e pequenas, foram estrategicamente organizadas para definir, aprimorar e acentuar a geometria da estrutura, em uma técnica usada na Roma clássica e, mais recentemente, na França e Inglaterra do século XVII. Esculpidas à mão, elas foram colocadas em seus locais originais e moldadas por artesãos para que ficassem exatamente como na estrutura original. Para garantir que tudo mantivesse sua forma genuína, cada grupo de pedras das paredes, tanto externas quanto internas, foi paletizado separadamente e rotulado em norte, sul, leste e oeste. Já as pedras dos pisos foram resgatadas de antigos castelos da Inglaterra.
O local escolhido para reerguer a residência também foi um desafio, por ser uma planície aluvial, com um rio circundando todo o terreno, e tornando a terra porosa e com águas subterrâneas. Como solução, a casa foi construída acima da superfície, com cuidado para minimizar os traumas ao delicado ecossistema da região, considerado um santuário para a vida selvagem.
A equipe preservou a altura, comprimento, tom e proporções, e as aberturas originais, mantendo as já existentes cozinha, despensa, estar, jantar e banho, além de um sótão, que era usado para armazenar feno. Um longo corredor transparente, feito em aço e vidro, foi construído para ligar a estrutura original às novas áreas criadas, que contemplam a suíte máster e demais dormitórios.
A propriedade ainda inclui uma casa de hóspedes e uma casa flutuante, com um vertedouro de água ao seu redor. A morada passa a sensação de ter crescido organicamente na paisagem, e a mistura de materiais, formas e detalhes históricos com as necessidades estruturais do século XXI trouxeram um belíssimo contraste entre o eterno e contemporâneo, com uma grande integração com a natureza.
*Publicado na edição 131